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segunda-feira, 18 de julho de 2011

Palavra de Parteiro - Kalu Brum - Michel Odent

Pra quem não sabe, Michel Odent esteve no Brasil nesse primeiro semestre de 2011 e fez diversas palestras por várias cidades. Ainda aguardo mais relatos e noticias delas pra postar aqui.

Encontrei esse post no site http://www.mamiferas.com/ e achei simplesmente incrível. Com os devidos créditos à Kalu Brum, autora e fotógrafa, posto para compartilhar.

Abaixo, um brevissimo histórico deste renomado Obstetra frances!
Apreciem!!
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Em um sábado frio de julho de 2010, ao entrar no abarrotado espaço Casa Jaya em São Paulo, então totalmente voltado ao nascimento, surpreendi-me com a disposição e a audácia do renomado obstetra e pesquisador francês Michel Odent, que com mais de 75 anos, tem uma visão histórica abrangente dos diversos cenários da obstetrícia ao longo dos anos.
O currículo de Michel  Odent dispensa explicações: foi encarregado do Centro Cirúrgico e da maternidade estadual em Pithiviers, Paris, de 1962 a 1985, e é o fundador do Primal Health Research Centre, em Londres. Na década de 70, foi o responsável pela difusão do homebirth (parto caseiro) e dos quartos com pequenas piscinas aquecidas nas maternidades. Odent começou a assistir partos em 1953, em maternidades, hospitais e domicílios – mas se denomina parteiro.
Em uma palestra de mais de 4 horas, esse ‘parteiro’ apresentou ao público ideias revolucionárias, como os perigos do uso da Ocitocina sintética, a preferência por cesáreas intraparto a intervenções medicamentosas, a não presença masculina na cena de parto. A seguir, compartilho com vocês um pouco do intenso aprendizado que experimentei, neste meu encontro com Michel Odent:

O parto antes da era do Plástico
Quando Odent começou a atuar profissionalmente, o plástico ainda não havia interferido na mudança dos procedimentos médicos. Este é o tema de seu próximo livro, que prometia finalizar até o final de 2010. Mas o que o plástico tem a ver com o parto? Segundo o obstetra, muita coisa: antes da era do plástico, o acesso medicamentoso era mais difícil. Não havia cateteres, o acesso às veias e, consequentemente, a administração de medicamentos, era mais trabalhosa. Na era do plástico, os partos passaram a ser mais medicamentosos, principalmente com uso de ocitocina, que segundo Odent pode deixar a humanidade incapaz de parir daqui a alguns milhares de anos. (isso realmente me assustou*).

Uso da Ocitocina Sintética
Para quem não sabe, a ocitocina é um hormônio naturalmente presente na hora do parto, e que desempenha um papel fundamental no nascimento. Em grande parte dos partos normais em todo o planeta, para acelerar a contração do útero e tornar o parto mais rápido, a ocitocina é usada de forma padronizada. É o famoso ‘sorinho’, que torna as contrações extremamente fortes e doloridas, levando muitas vezes à alteração dos batimentos cardíacos do bebê, tornando necessário o uso de anestesia, e iniciando as cascatas de intervenções físicas e medicamentosas. Segundo Odent, por tratar-se de um hormônio, a ocitocina passa pela barreira placentária e chega à corrente sanguínea do bebê, afetando o cérebro da criança (isso também me deixou muito preocupada*). Na opinião do obstetra, o uso do hormônio sintético pode gerar seres humanos mais agressivos, pois é um hormônio diretamente ligado à socialização. Outra consequência é a incapacidade de produzir o hormônio naturalmente, uma vez que a versão sintética bloqueia a produção de ocitocina natural. Atuando no cérebro da criança, o hormônio sintético pode tornar os indivíduos incapazes de produzir este hormônio, tanto na hora do parto como em outras situações de suas vidas. Sem a produção de ocitocina, tornamo-nos incapazes de sentir prazer.

Condições para um parto natural e eficiente
Para que o parto aconteça de maneira natural e tranquila, é preciso criar condições favoráveis à liberação de ocitocina natural. Segundo Odent, a ocitocina é um ‘hormônio tímido’. Para o obstetra, a cena de parto deveria ser semelhante às condições ideais para uma boa relação sexual: segurança, privacidade e ambiente quente e escuro são alguns dos fatores fundamentais para a liberação de ocitocina. Outra questão revolucionária levantada por Odent é que a adrenalina bloqueia a produção de ocitocina. “E sabemos que a adrenalina pode ser captada pelos órgãos do sentido. Desta forma, quem prestará o atendimento deve ter uma baixa produção de adrenalina”, explica. O obstetra esclarece que geralmente os homens produzem adrenalina na hora do parto, e por isso costumam atrapalhar mais do que ajudar na produção de ocitocina. “O ideal é um atendimento feminino (concordo em partes... p mim, meu marido presente é essencial, a menos que parta dele não querer estar presete*). E quanto menos gente melhor (isso eu concordo*)”, defende Odent. Para ele, uma mulher em trabalho de parto deveria ficar isolada, e ser observada indiretamente por uma parteira ou enfermeira. “As doulas, parteiras e enfermeiras, ao invés de darem comandos tirados de manuais, deveriam permanecer fazendo uma atividade repetitiva, como bordar”, brinca o obstetra-parteiro. Odent diz ainda que todos os mamíferos criam mecanismos para não serem observados na hora do parto, e o mesmo deveria acontecer com a espécie humana (gostei dessa parte... farei isso p mim da pxma vez*).

Cesáreas intraparto são melhores que uso de medicamentos em partos normais
Para Michel Odent, é uma verdadeira afronta médica fazer uma cesárea antes do início de um trabalho de parto. Mas ele acredita que a cirurgia é melhor do que o uso de ocitocina sintética, anestesia, fórceps. “Se um parto não acontece naturalmente, é mais indicado fazer uma cesárea do que recorrer ao uso de medicamentos. Mesmo porque a grande explosão de hormônios acontece depois do parto. A mulher que teve cesárea, estando aquecida, liberará ocitocina e experimentará aquela sensação de êxtase, que nada mais é que a sensação de amor. Uma mulher que recebeu ocitocina não será capaz de liberar este coquetel hormonal fundamental para criação do vínculo com a cria, e para um pós-parto sem sangramentos”, explica.
Vale lembrar que a visão do obstetra se ajusta muito mais às realidades européias do que à brasileira, uma vez que ainda lutamos, sobretudo, pela autonomia feminina. Os ideais de Michel Odent estão muito além das práticas obstétricas brasileiras(ixxi, parece até utopia*), já que em nosso país 80% dos nascimentos da rede privada são por cirurgia cesariana, e acontecem antes do início do trabalho de parto. Quase 100% dos partos normais acontecem com utilização de ocitocina e anestesia, além de outras intervenções.
A luta para transformar o modelo obstétrico brasileiro está apenas começando. E mais do que partos mais humanizados, cabe-nos buscar partos mais mamíferos, adequando as revolucionárias idéias de Odent à nossa realidade, nosso ponto de partida para escrever uma nova história do parto no Brasil.

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Imagens: Kalu Brum
Foto 1: Michel Odent, parteiro e revolucionário
Foto 2: Para Odent, o ambiente ideal para parir tem condições semelhantes às do momento do sexo.
*Comentários da bloguista, eu ^^v

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